Já vou começar deixando o que achei do filme: O filme é muito bom, mas como adaptação literária foi péssimo.
Primeiro vou dar um contexto geral da história, falando sobre a construção maravilhosa que a Nicola Yoon fez com o seu livro e como ele deve ser exaltado por vários motivos. Confesso que irá ter spoilers, tentarei o mínimo possível, mas tem pontos muitos importantes que precisam ser ressaltados.
Os protagonistas são Daniel, descendente direto de coreanos, seus pais se mudaram para os Estados Unidos buscando novas oportunidades, porém ele e o irmão já nasceram no país, então são americanos. Os pais têm uma loja de produtos para cabelos negros e já escolheram o futuro dos seus filhos para que eles tenham sucesso. Charlie, o irmão mais velho de Daniel é um babaca, que parece ter vergonha da sua origem e o tempo todo finge que não entende quando os seus pais falam em coreano com ele, acabou de ser suspenso de Harvard e continua sendo o idiota que sempre foi. Daniel está com entrevista marcada para aquele dia para Yale, para entrar em medicina como seus pais planejaram, ele de toda forma tenta agradar aos pais, porque de fato gosta de ser coreano e não nega suas origens.
Então temos Natasha, que está sendo deportada junto com a sua família naquela noite para a Jamaica, eles são imigrantes ilegais e seu pai foi pego pela polícia dirigindo bêbado o que resultou nela tendo que deixar para trás toda a sua vida em Nova York onde cresceu e pretendia ficar para sempre. O seu pai tinha o sonho de ser ator e praticamente afundou a família deixando todos infelizes por isso. A mãe trabalha para manter o apartamento de um quarto só, enquanto o irmão está muito feliz por ir para a Jamaica, pois pareceu nunca se encaixar na cidade, mesmo tendo nascido lá.
Natasha está decidida a fazer de tudo para que eles possam ficar no país então sai com encontro marcado para tentar resolver. Daniel com a entrevista para Yale marcada também está na rua para começar a resolver o seu futuro. E o destino fez os dois se encontrarem e então que a história começa a acontecer com todos os mínimos detalhes narrados no livro que fazem os dois passarem por esse dia e que são maravilhosos.
Agora vou começar a fazer a comparação com o filme e terminar de contar como acontece essa história maravilhosa. O filme é muito superficial em todos os momentos, no livro a escritora dá atenção à exatamente todos os detalhes e pessoas que cruzam o caminho dos protagonistas, porque eles tem um papel importante na vida dos dois que irá determinar o futuro deles e isso é muito incrível e não senti que passaram isso na adaptação. Exatamente como a Irene, a segurança do prédio onde Natasha tinha o seu primeiro compromisso do dia, no filme ela nem aparece ou é mencionada e isso já me deixou preocupada, pois o desfecho tinha tudo a ver com ela.
Outra coisa que ficou meio sem sentindo é que a experiência com a frase escrita na jaqueta da Natasha – Deus Ex Machina – é totalmente divergente, no livro acontece depois de uma experiência de Daniel com o motorista do trem que para o veículo para falar sobre Deus e depois ele a vê na rua com a jaqueta e é isso que faz ele ir atrás dela no início, já no filme isso acontece aleatoriamente com ele no quarto e do nada a frase vem à sua cabeça.
Alguns detalhes que são muito mencionados pela escritora durante o livro foram alterados no filme, o que na minha opinião fez perder um pouco a graça, como o fato da gravata que ele está usando para a entrevista é vermelha e foi colocada uma totalmente sem graça e também de originalmente ele ter um rabinho no cabelo que é o que mais atrai a Natasha, isso também foi mudado.
Mas o mais importante que eu acho que não deveria ter sido feito diferente é o motivo que a família será deportada, no filme eles mudaram totalmente o sentido e tiraram toda a profundidade dos sentimentos da Natasha referente ao pai. Nós podemos ver durante todo o livro que ela não aceita o que o pai se tornou e o que fez para acontecer tudo isso e no filme isso passa batido sem nem ser mencionado, e perde a importância gerada uma vez que foram destinados quatro capítulos para contar a história do pai dela.
O tempo todo acontece as “coincidências” que podemos linkar com o destino e todas as vezes isso foi exaltado na história original, o que desencadeia uma reação no leitor de estupefação, do tipo, “não acredito que isso está mesmo acontecendo” “como a pessoa foi capaz de pensar nisso”. Na adaptação foram usados alguns momentos assim funcionando como uma peneira tapando o sol. Só para não passar em branco.
Para finalizar, apesar de ter muitos outros detalhes aqui, mas estou usando apenas os essenciais para não deixar enorme e dar um spoiler de cada momento da história. Na adaptação além de mudarem o sobrenome do advogado de Fitzgerald para Martines, mudaram totalmente a história dele e ele passa a ser a peça chave para o encerramento. E sem contar que no filme a história se passa em dois dias, o que perde total o sentido do livro e da frase deles, de que eles só precisam de um dia para se apaixonarem um pelo outro.
A história original é perfeita, a escritora coloca pontos muito importantes, sobre o preconceito racial, de que os povos não devem se misturar e devem se manter ao que é conhecido e como os protagonistas estão quebrando esse padrão. O quanto uma atitude pode mudar o transcorrer do dia e mudar toda uma vida, gente, eu achei isso tudo muito genial como mostra toda essa parte de destino.
O filme não é ruim, se a gente assistir como independente do livro é muito bom também, com uma produção ótima, porém para nós leitores, que não consegue separar uma coisa da outra acaba nos decepcionando, pois eu, por exemplo, estava esperando uma cena que me apaixonei e achei que iria ter pois foi o plot twist do livro, e a personagem nem existiu no filme.
Mas deixo a recomendação, leiam o livro principalmente porque é maravilhoso. E assistam o filme, pois é um romancezinho perfeito para aquecer o coração e consigam separar as duas coisas para aproveitar a experiência dos dois.
